Chega a Brasília a exposição Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985, reunindo filmes, fotografias e reportagens produzidas ao longo de duas décadas pelo cineasta e fotógrafo Jorge Bodanzky. Com entrada gratuita, a mostra será aberta nesta quinta-feira (12), às 19h, no Museu Nacional da República, e conta com visita guiada pelo próprio autor, seguida de sessão de autógrafos do catálogo.
Organizada pelo Instituto Moreira Salles (IMS), a exposição apresenta um panorama potente das décadas de chumbo por meio da lente de Bodanzky — diretor de Iracema, uma transa amazônica (1974), longa premiado internacionalmente, mas censurado no Brasil. As obras abordam temas ainda atuais, como repressão, desigualdade, destruição ambiental e as lutas populares.
Quatro grandes projeções contínuas exibem trechos de sete filmes do cineasta e reportagens audiovisuais realizadas para a televisão alemã, além de imagens em super-8 que integram o acervo do IMS. A narrativa visual se organiza em torno de eixos temáticos como exploração do trabalho, religiosidade popular, movimentos de resistência e diferentes visões de progresso. Cada projeção tem duração de cerca de 25 minutos.
Para Jorge Bodanzky, a mostra é resultado de décadas de trabalho contínuo com diferentes linguagens. “É realmente incrível a possibilidade de poder mostrar ao público meus arquivos de filmes, fotografias, vídeos e super-8 simultaneamente. Isso só foi possível porque, ao tempo em que eu filmava, ia fotografando e registrando para mim, como numa espécie de caderno de notas, todas as experiências vividas, os fatos observados. ados tantos anos, fica nítido que esse vasto material compõe um todo, uma parte iluminando a outra e formando um conjunto único, orgânico.”
A escolha do recorte histórico é também uma provocação necessária. “Escolher o período da ditadura militar é igualmente oportuno, pois sem uma leitura lúcida do ado, que talvez a exposição provoque, não conseguiremos vislumbrar um futuro democrático e livre para o nosso país”, afirma Bodanzky.
A mostra já ou por São Paulo e Fortaleza e conta com curadoria de Thyago Nogueira, assistência de Horrana de Kássia Santoz e pesquisa de Ângelo Manjabosco e Mariana Baumgaertner. Segundo Nogueira, parte significativa do material permanece pouco conhecida:
“Boa parte desta produção ainda é pouco conhecida, seja em razão da censura da época, da falta de financiamento nacional ou do reduzido circuito de exibição dedicado ao cinema ativista. Em conjunto, esta obra revela o papel crucial das imagens na luta por direitos e na compreensão do panorama complexo e muitas vezes contraditório do país. A produção de Bodanzky é um convite urgente e atual para repensar a democratização do país e a renovação do cinema político, ” diz o curador.
Nas paredes do museu, os visitantes também poderão ver fotografias realizadas nas décadas de 1960 e 1970, incluindo imagens experimentais em Brasília e registros de reportagens feitas para revistas como Realidade. A composição visual de Bodanzky frequentemente utiliza o para-brisa de carros, helicópteros ou aviões como moldura para as cenas, recurso que revela o olhar narrativo e cinematográfico do autor.
A diretora do Museu Nacional da República, Fran Favero, celebra a chegada da mostra à capital. “É um imenso privilégio receber a produção de Bodanzky em Brasília, cuja trajetória está marcada por sua agem pela cidade e pela UnB. O Museu Nacional da República Honestino Guimarães possui em seu próprio nome uma homenagem a um dos muitos desaparecidos políticos da ditadura,” ressalta Favero.
Um catálogo acompanha a mostra, com fotografias, cronologia detalhada e textos de autores como Ailton Krenak, Claudia Mesquita, Joel Zito Araújo, Luara Macari e da própria curadora Horrana de Kássia Santoz, além de uma entrevista com Bodanzky.

Sobre Jorge Bodanzky
Nascido em São Paulo em 1942, filho de austríacos que fugiram da perseguição nazista, Bodanzky entrou em 1964 na segunda turma da Universidade de Brasília. Com o endurecimento da repressão, mudou-se para a Alemanha em 1966, onde estudou cinema com Alexander Kluge. De volta ao Brasil em 1968, trabalhou como fotógrafo nas revistas Manchete e Realidade e foi diretor de fotografia no Cinema Marginal. Em 1971, estreou na direção com Caminhos de Valderez, filmado em Brasília.
Durante os anos da ditadura, percorreu sobretudo as regiões Norte e Nordeste, documentando tanto a riqueza cultural quanto a violência no campo e a devastação ambiental promovida pelas políticas do regime militar. Suas obras denunciaram a realidade brasileira, desafiando a censura e os limites entre ficção e documentário.
Serviço
Exposição: Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985
Abertura: 12 de junho, às 19h — com visita guiada por Jorge Bodanzky e sessão de autógrafos do catálogo
Período de visitação: Até 21 de setembro
Local: Museu Nacional da República Honestino Guimarães — Setor Cultural Sul, Lote 2, Brasília – DF
Horário: Terça a domingo, das 9h às 18h30
Entrada gratuita